sábado, julho 28, 2012

Inspiração pra dar e vender



Pesquisadores criam enciclopédia na Internet com mais de 1.500 biografias de artistas brasileiros.

Uma enciclopédia gratuita, de livre acesso, dedicada exclusivamente a artistas brasileiros e com endereços e detalhes dos acervos de 738 museus do país. Assim é o projeto Brasil Artes Enciclopédias, da Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional, coordenado pelo historiador da arte Raul Mendes. Todo o conteúdo está disponível no site www.brasilartesenciclopedias.com.br, que encerra este mês sua fase preliminar. O portal já recebe 25.000 acessos por mês.

Há cerca de 1.500 biografias no site, entre muitos outros dados que podem ser consultados, inclusive para pesquisas históricas de movimentos artísticos e de seus maiores expoentes. O usuário pode escolher entre quatro temas – “Dicionário de artistas do Brasil”, “Dicionário de arte internacional”, “Museus de arte do Brasil” e “Temas das artes” – e a partir de setembro terá outros quatro à disposição – “Obras-primas do Brasil”, “Vídeos de arte brasileira”, “Arte e educação ambiental” e “História da arte no Brasil”.

De fácil navegação, o portal conta com uma curadoria de mais de 40 acadêmicos ligados a museus e instituições de ensino. Para Mendes, o projeto tem principalmente um perfil educativo: “Não é mercadológico. E nós queremos mantê-lo assim”.

segunda-feira, julho 23, 2012

Praga antiga, problema novo


Da Colônia à República, corrupção persiste como doença política no Brasil.

Na semana em que o Senado cassou o mandato de Demóstenes Torres, acusado de atuar como lobista do bicheiro Carlinhos Cachoeira e às vésperas do julgamento do mensalão, talvez o maior escândalo político da história do país; O Globo destaca quatro casos, pesquisados e comentados pelo historiador Nireu Cavalcanti, que mostram como a corrupção - quase sempre acompanhada pela impunidade - é uma mazela antiga no Brasil.

Desde o início da colonização, as dimensões da Colônia e sua distância em relação à metrópole portuguesa facilitaram que as autoridades mandadas para cá abusassem de suas prerrogativas. O desenvolvimento de uma sociedade escravista acirrou esta desigualdade.

Quem é senhor de um ser humano imagina que pode tudo - avalia Cavalcanti. Os governantes pensavam assim e chegavam ao poder com apoio de gente com a mesma mentalidade. Além disso, nossa justiça sempre foi muito vagarosa, o que favorece a sensação de impunidade.

A colonização portuguesa, porém, não é a mãe de todas as culpas. Recife e Olinda, no século XVII, foram tomadas por holandeses, que mantiveram o poder torturando inimigos e subornando padres.

Algumas histórias abaixo, mesmo separadas pelos séculos, permanecem ligadas ao cotidiano do Brasil contemporâneo. Fantasmas que ainda assombram a nação.

Torturas e favores no Recife

Por 24 anos (1630-1654), Pernambuco esteve nas mãos da Companhia Holandesa das Índias Orientais - uma organização privada que atuava com velado apoio estatal. O principal expoente da invasão foi Maurício de Nassau. Entre 1637 e 1644, quando esteve à frente do domínio nordestino, o então conde caiu nas graças da elite local com uma gestão avaliada como eficiente e conciliadora. Apoiou o desenvolvimento de movimentos artísticos e o desenvolvimento das ciências, planejou a expansão urbana de Recife e fortaleceu a presença militar no território. Além destas realizações sempre lembradas, porém, Nassau usou outros artifícios, igualmente importantes para seu sucesso administrativo. Em um relatório de governo, endereçado aos seus sucessores, Nassau faz recomendações que não condizem com a aura que a História lhe conferiu, como tortura e suborno.

A tortura, à época, era institucionalizada - ressalta Nireu Cavalcanti. E qualquer pessoa suspeita de pertencer a movimentos favoráveis à retomada de Pernambuco pelos portugueses, ou mesmo a alguns crimes comuns, poderia ser submetida a esses atos selvagens. Nassau pede que as denúncias dos presos não sejam levadas em conta pelos novos administradores, porque elas seriam feitas apenas para evitar os maus tratos.

Outra forma de garantir a distância das tropas lusitanas era comprando o apoio da aristocracia. Escreve Nassau: "Convém (...) angariar e manter, por meio de favores e de dinheiro, alguns portugueses particularmente dispostos e dedicados (...) dos quais possam vir a saber em segredo os preparativos do inimigo". Os padres eram particularmente bem cotados - não só por sua ampla influência junto à elite, como por aquilo que ouviam nos confessionários.

A marquesa e o suborno ao capitão francês

Membro do Corpo de Estrangeiros do Exército Brasileiro, o alemão Carl Schlichthorst passeava em 1825 próximo à alfândega, no centro, quando foi abordado pelo capitão de um navio francês. Ele queria ajuda para liberar sua embarcação, capturada no Rio da Prata com mercadorias ilegais e rebocada para o Rio de Janeiro. Schlichthorst era influente. Conhecia desembargadores. Já fora apresentado a D. Pedro I. O capitão, porém, pediu para que o acompanhasse ao palácio da Marquesa de Santos, a amante do monarca, em São Cristóvão.

"Expus-lhe minuciosamente o negócio do meu cliente e ela mandou que esperássemos na antessala a solução que seu mordomo nos comunicaria", escreveu o alemão em seu diário. A resposta veio logo: a marquesa analisaria o caso do francês - sem garantia de sucesso -, mas o favor custaria um conto de réis.

Schlichthorst surpreendeu-se com o preço: era uma fortuna, suficiente para comprar um sobrado na Rua Direita, atual Primeiro de Março, a mais valorizada via da cidade na época. O francês, porém, não achou a quantia exagerada. Prometeu leva-la no dia seguinte, quando a entregou diretamente à marquesa.

Na saída, o mordomo do palácio pediu para que Schlichthorst o acompanhasse até o seu quarto.

O mordomo deu 50 mil réis ao militar alemão, explicando-lhe que era praxe da casa dar 5% ao intermediário de qualquer negócio - conta o historiador Nireu Cavalcanti. E ainda lhe disse para trazer novos clientes sempre que pudesse. Não se sabe se a marquesa de fato interferiu no caso, mas, se o fez, muito provavelmente ela conseguiu liberar o navio.

O choque de Schlichthorst não durou muito tempo. Aceitou sua comissão e ainda ganhou uma dúzia de garrafas de vinho Bordeux do capitão francês pelos serviços prestados.

Outras acusações de suborno já foram feitas à amante de D. Pedro I. O primeiro encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Condy Raguet, reuniu pelo menos quatro casos, mostrando o tamanho de sua influência sobre o imperador que, aparentemente, nunca soube das negociatas da marquesa.

Pedágio de verdade e obras de ficção

Depois de toda a tempestade era a mesma coisa: os caminhos que cortavam os atuais bairros do Flamengo e Botafogo ficavam intransitáveis. As poças e desníveis desafiavam carroças, além de tornar impraticável o trânsito de pedestres. Três personagens da elite carioca viram na lama uma oportunidade de negócio. Os comerciantes Joaquim José Pereira de Faro e Inácio Raton e o engenheiro Pedro de Alcântara Bellegardo uniram-se no Catete e criaram a Companhia para Melhoramentos da Estrada de Botafogo.

Em novembro de 1839, o trio passou por cima da Câmara de Vereadores - que deveria ter opinado sobre o processo - e conseguiu aprovar diretamente no Ministério do Interior o seu contrato de trabalho. A missão: fazer melhorias nas atuais ruas Marquês de Abrantes e Senador Vergueiro, deixando-as com 13,2 metros de largura e calçadas em um dos lados, e também na praia de Botafogo, até a altura da atual São Clemente. As vias deveriam ser drenadas e sempre deixadas em perfeito estado de circulação. Os recursos viriam da exploração de pedágio na ligação entre Catete e Botafogo.

Logo depois da assinatura do contrato, as guaritas para cobrança de pedágio foram instaladas, próximo de onde hoje é a Praça José de Alencar - destaca Nireu Cavalcanti. A taxa era de 40 réis por animal e de 80 réis para carros de eixo móvel. O prazo da concessão era de 30 anos, renováveis.

Dezenove anos depois, no entanto, poucas mudanças eram notadas - com exceção de um ou outro remendo, que se provaram ineficientes depois de chuvas mais rigorosas. Só pedágio funcionava exemplarmente, o que enfureceu a população.

Um abaixo-assinado foi encaminhado à Câmara de Vereadores, que, após a avaliação de um engenheiro, cancelou o contrato - relata Nireu. A companhia prometeu fazer um modelo para as ruas do Rio, mas as calçadas não saíram do papel e os carros continuavam atolando nos buracos. Os empresários ficaram ofendidos com as acusações contra sua eficiência e contrataram os melhores advogados da cidade. Acabaram conseguindo uma indenização pelo rompimento do acordo. Nada fizeram, mas ganharam uma bela indenização.

O provedor corrupto de Goiás

Um grande intelectual, autor do primeiro livro impresso no Rio. Um dos maiores presidentes da Câmara de Vereadores até então - esteve à frente da Casa entre 1744 e 1750. Quando avaliado por 90 testemunhas da elite da cidade, no fim de seu mandato, não faltaram predicados para o bacharel Luiz Antônio Rozado da Cunha, arauto da ética na política. Oito anos depois, assumiu a provedoria da Fazenda Real de Goiás, ainda reconhecido pela lisura e competência com que despachava processos.

Em sua nova etapa profissional, no entanto, Luiz Antônio incumbiu-se de destruir a própria fama. Na remota capitania goiana, envolveu-se em esquemas de desvio de ouro, que "sumia" durante sua pesagem na Alfândega, e na venda de animais a preços exorbitantes para transportes e mineração, um negócio vedado a funcionários públicos.

Luiz Antônio exerceu o cargo de provedor em Goiás por três anos. No fim deste período, houve um processo sigiloso para análise de sua gestão, conduzido pelo guarda-mor local, em que ele acabou denunciado como corrupto e participante de quadrilha - destaca Nireu Cavalcanti. Além dele, estavam envolvidos o ouvidor, o tesoureiro e o escrivão da Fazenda Real, além do capitão-mor, de vereadores e alguns padres. Alheio às denúncias, o provedor voltou ao Rio em 1761, pronto para retornar  a Portugal, sua terra natal. Foi preso logo que chegou à Praça XV pelo governador da capitania do Rio e seu amigo, Conde de Bobadela.

O provedor fez uma administração maravilhosa no Rio e, quando chegou a Goiás, transformou-se em um grande corrupto e logo conseguiu o seu lugar na quadrilha local - destaca Nireu. Foi uma mudança estranhíssima.

Texto de Renato Grandelle
Jornal O Globo

terça-feira, julho 17, 2012

A Revolução das Fontes Históricas Digitalizadas


Biblioteca Nacional digitaliza sua hemeroteca e contribui para a consolidação de uma verdadeira revolução no trabalho de pesquisa acadêmica.

Os historiadores brasileiros podem comemorar mais uma excelente notícia no que se refere a oferta de documentos na internet: a Biblioteca Nacional está digitalizando todo o seu acervo de jornais e revistas não-correntes (que deixaram de circular). São milhares de periódicos produzidos entre os séculos XIX e XX e que poderão auxiliar – de forma gratuita – pesquisadores no Brasil e no exterior que investigam os mais diferentes temas e áreas. O acesso poderá ser feito a distância, via um banco de conteúdos online.

O projeto da Biblioteca Nacional é bastante ambicioso. Até o momento foram digitalizados 638 periódicos – pequenos, grandes, raros e populares. A maior parte cobrindo o período que vai do início do século XIX até os anos 1950. E, segundo os funcionários da Biblioteca Nacional, há muito material sendo preparado, incluindo periódicos da segunda metade do século XX. Além do volume significativo de documentos, a hemeroteca digital ainda conta com um muito bem-vindo sistema inteligente. Há alguns anos, os primeiros projetos de digitalização de fontes históricas preocupavam-se muito com a qualidade visual do material, mas quase sempre deixavam a desejar no quesito a pesquisa do acervo. No caso da Biblioteca Nacional, não. Os conteúdos contam com um sistema de buscas que funciona muito bem. É possível virar e revirar todo o banco de dados através de pesquisas precisas por periódico, por período e por local.

Entre os periódicos, já é possível encontrar grandes jornais do período republicano, como "Correio da Manhã" e "Diário Carioca", e também os pequenos, mas não menos ilustres, como "O Despertar" e "Nova Luz Brazileira", da época do Império. Alguns poucos jornais não autorizaram a digitalização de seu acervo de forma alguma. É o caso do carioca "O Jornal". Outros, liberaram parcialmente: o acesso não pode ser feito remotamente, mas somente in loco. Por isso, principalmente, a Biblioteca Nacional já está se equipando: dezenas de computadores com acesso a internet farão companhia as já conhecidas máquinas leitores de microfilmes. Além disso, jornais que passaram por processos de digitalização incompletas e/ou problemáticas, como é o caso do "Jornal do Brasil" e do "Última Hora", serão redigitalizados e acrescentados ao banco de dados.

A iniciativa da Biblioteca Nacional é um acerto na política de democratização do conhecimento da instituição (aquilo que deve ser, no fundo, a vocação de qualquer biblioteca). Para o historiadores, os benefícios da digitalização de fontes são imensos, para não dizer revolucionários. As pesquisas por "palavras-chave", e por diferentes entradas, tornam as pesquisas mais rápidas e mais precisas. Liberam tempo para análises e para ampliação de objetos de estudos. E não é só: a digitalização e disponibilização de um acervo como o da Biblioteca Nacional – a oitava maior do mundo – permite a ampliação das pesquisas no país (fuga do excessivo localismo), desafoga o atendimento presencial (melhora a sua qualidade) e ainda preservam os originais. Se as novas mídias estão transformando o ofício do historiador, a digitalização, neste sentido, é uma destas dimensões transformadoras.

Para conferir esse grande trabalho – ainda em processo – acesse o site: Rede da Memória Virtual Brasileira. E não deixe de divulgar essa grande notícia: compartilhe este artigo com seus amigos e colegas através das mídias sociais.

domingo, julho 01, 2012

Unesco declara a cidade do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural da Humanidade


O Rio de Janeiro foi escolhido neste domingo (01/07), pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), como Patrimônio Cultural da Humanidade. Com isto, a cidade se torna a primeira do mundo a deter o título na categoria paisagem cultural urbana.

A escolha se deu durante a 36ª Reunião do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco (36ª WHC), que ocorre em São Petersburgo, na Rússia, em votação que estava prevista para ocorrer inicialmente ontem (30/06).

O discurso de apresentação da candidatura do Rio a Patrimônio da Humanidade foi feito, em português, pela ministra da Cultura, Ana de Hollanda, que encontra-se em São Petersburgo, acompanhada do presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Luiz Fernando de Almeida.

Compõem, atualmente, o Comitê da Unesco, as delegações da Argélia, do Camboja, da Colômbia, Estônia, Etiópia, França, Alemanha, Índia, do Iraque, Japão, da Malásia, do Mali, México, Catar, da Rússia, do Senegal, da Sérvia, África do Sul, Suíça, Tailândia e dos Emirados Árabes Unidos.

A candidatura do Rio de Janeiro está inscrita na categoria Paisagem Cultural e foi entregue em setembro de 2009 à Unesco. Nela, consta um dossiê completo da candidatura, justificando sua importância e seu valor universal, que está, principalmente, na soma da beleza natural da cidade com a intervenção humana. Em janeiro do ano passado, o Centro do Patrimônio Mundial da Unesco, sediado em Paris, decidiu pela inclusão da candidatura do Rio de Janeiro na agenda da 36ª WHC.

Ao justificar a candidatura do Rio, o IPHAN lembra que a cidade é reconhecida como uma das cidades mais belas do mundo e encontra na relação entre homem e natureza a âncora para a sua candidatura. O instituto também destaca os ícones da beleza natural da cidade como o Pão de Açúcar e a entrada da Baía de Guanabara.