domingo, maio 13, 2007

As mães de Bagdá

Durante meses vivemos os horrores da guerra do Iraque. Deixou de ser a ficção de um filme que concorre para um Oscar de Holywood. Pela primeira vez o mundo inteiro tomou consciência e assistiu perplexo o absurdo do confronto bélico desde a gestação até os estertores do melancólico desfecho.

As manifestações populares se alternavam na diversidade dos povos e culturas e a palavra paz foi decantada em todas a línguas com revoadas de tantas pombas brancas que levaram a esperança para o infinito.

Por outro lado, no campo da morte, parecia não existir o ser humano. Ele foi substituído por robôs de um videogame, ao vivo, onde os comandos implacáveis manipulavam tanques e aviões a semearem o caos e o luto da morte.

Presenciamos perplexos a alta tecnologia da indústria da morte e a insensatez a que chega o ser humano quando a obstinação toma conta de alguém com as terríveis e inconseqüentes determinações e justificativas.

Mas, quem ficou com o prejuízo? Certamente não foram os senhores da guerra que perderam tanques e aviões, viram saqueados seus palácios, derrubadas as estátuas, queimada sua imagem.

Eles simplesmente entraram na história como loucos e ditadores bandidos... Como sempre acontece, ficou para os desprotegidos, as crianças, os jovens, os idosos e, sobretudo, para as mães.

Uma população inteira vendo suas casas destruídas, a procurar nos escombros alguma coisa que ainda restou da história que construíram.

Do outro lado do mundo, na intimidade de seus lares distantes, quantas famílias americanas e inglesas, viam, na silhueta de cada soldado, em cada tanque ou canhão, avião ou helicóptero que aparecia nas imagens da TV, imagem do esposo ou pai, do filho, o noivo, do namorado ou de um amigo querido...

E as crianças? Famintas, feridas, mutiladas, já não tinham o que chorar e sofrer...

Seus olhos diziam tudo... Perderam a expressão de alegria descontraída da inocência da infância. Invadiram-lhes o coração, a tristeza da dor, do vazio, do abandono, a falta de esperança.

Será que vamos aprender e tirar uma lição da guerra? Dessa guerra de um distante Iraque com seus desertos e campos de petróleo e da nossa guerrilha quotidiana com as balas perdidas dos tiroteios, os ônibus incendiados nas noites e madrugadas, das agressões e violências dos assaltos?

O mês de maio nos traz a celebração do simbólico Dia das Mães. sobre os escombros de tantos lares e famílias entristecidas.

Que ele nos ajude a reverter os sinais de ódio, vingança e desamor disseminado no coração humano. Mirem-se no exemplo das mulheres de Bagdá...

Com suas roupas austeras, cabeças cobertas e olhares sofridos, são as Nossas Senhoras das Dores que carregam no colo o que restou dos filhos para restitui-lhes vida!

E a vida só é possível quando houver alguém que tenha por ela, os mesmos sentimentos de um coração de mãe!

Pe. Paulo D´Elboux, SJ, Reitor do Colégio Santo Inácio


COMENTÁRIO: O autor deste blog oferece este texto para todas as mães e em especial as mães de Bagdá.

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