quinta-feira, abril 19, 2007

O papel dos trens na Cidade do Rio de Janeiro


Ao contrário dos bondes, que penetraram em áreas que já vinham sendo urbanizadas ou retalhados em chácaras desde a primeira metade do século, os trens foram responsáveis pela rápida transformação de freguesias que, ate então, se mantinham exclusivamente rurais. Em 1858 foi inaugurado o primeiro trecho da Estrada de Ferro Dom Pedro II, ligando a freguesia de Santana a Queimados (distrito do atual município de Nova Iguaçu). Nesse mesmo ano foram inauguradas as estações de Cascadura e Engenho Novo (no Rio de Janeiro) e de Maxambomba (atual distrito sede de Nova Iguaçu). Em 1859, foram inauguradas, por sua vez, as estações de São Cristóvão e Sapopemba (atual Deodoro), enquanto a de São Francisco Xavier foi aberta em 1861.


Sapobemba e Maxambomba eram, nessa época, pequenos núcleos isolados que serviam a uma população rural esparsa. Cascadura e Engenho Novo, por outro lado, eram áreas rurais que já mantinham relações constantes com as freguesias centrais, relações essas que foram bastante incrementadas a partir de 1861, quando foi inaugurado o serviço regular de trens até Cascadura. "Custando as passagens de primeira classe 900 reis ate Engenho Novo e 1$500 ate Cascadura. Havia passagens de 2a e 3a classes que custavam, respectivamente, 600 reis e 1$500, para o Engenho Novo e Cascadura, nos carros de 28 classe, e 300 e 500 reis, nos de 39". 

A existência de uma linha de subúrbios até Cascadura incentivou, de imediato, a ocupação do espaço intermediário entre esta estação e o centro. Antigas olarias, curtumes, ou mesmo núcleos rurais, passaram então a se transformar em pequenos vilarejos, e a atrair pessoas em busca de uma moradia barata, resultando daí uma elevação considerável da demanda por transporte e a conseguinte necessidade de aumentar o numero de composições e de estações. Na década de 60 foram inauguradas então as estações de Riachuelo e Todos os Santos. Em 1870, por sua vez, a linha de Cascadura passou a ser servida por mais dois trens diários, inaugurando-se de fato o sistema suburbano de transporte, já que os horários dos trens passaram então a ser mais adequados as horas de entrada e saída dos locais de emprego do centro da cidade. Como conseqüência imediata, o processo de ocupação da faixa suburbana ate Cascadura adquiriu impetuosidade ainda maior na década seguinte, levando a inauguração das estações de Engenho de Dentro, Piedade, Rocha, Derby Club, Sampaio, Quintino, Méier, Mangueira e Encantado e, já em 1890, da estação de Madureira. O processo de ocupação dos subúrbios tomou, a princípio, uma forma tipicamente linear, localizando-se as casas ao longo da ferrovia e, com maior concentração, no entorno das estações.

Aos poucos, entretanto, ruas secundárias, perpendiculares a via férrea, foram sendo abertas pelos proprietários de terras ou por pequenas companhias loteadoras, dando inicio assim a um processo de crescimento radial, que se intensificaria cada vez mais com o passar dos anos. Falando sobre a freguesia de Inhaúma, assim se expressava Noronha Santos na virada do século: “De 1889 para cá, Inhaúma começou a progredir dia a dia, edificando-se em vários pontos da vasta e populosa freguesia confortáveis prédios, que podem competir com os melhores das freguesias urbanas. Foram retalhados os terrenos das antigas fazendas que ainda existiam; bem poucos vestígios ficaram daqueles tempos em que o braço escravo era o cooperador valioso da fortuna pública e particular”.


De importância fundamental para o crescimento dos subúrbios foi também a inauguração, na década de 1880, de duas novas ferrovias. Em 1883 foi aberta ao tráfego, em caráter provisório, a Estrada de Ferro Rio D'Ouro, ligando a Quinta Imperial do Caju a represa do Rio D'Ouro, na Baixada Fluminense. Atravessando as freguesias de São Cristóvão, Engenho Novo, Inhaúma e Irajá. Essa ferrovia foi construída com a finalidade de transportar material para as obras de construção da nova rede de abastecimento de água da cidade do Rio de Janeiro captada nos mananciais da Serra do Mar, em Tinguá e Xerém. Por acompanhar os encanamentos que traziam a água do Rio D'Ouro até São Cristóvão, a ferrovia foi, inicialmente, utilizada apenas para os trabalhos de conservação do sistema (adutor e distribuidor). Posteriormente, passou a ter um serviço regular de passageiros, embora jamais tenha tido o mesmo papel indutor da D. Pedro II, já que seu ponto terminal era distante do centro, na Ponta do Caju.

Isto não impediu, entretanto, que pequenos núcleos se desenvolvessem ao longo de suas linhas (dentre os quais se destacam Inhaúma, Vicente de Carvalho, Irajá, Colégio, Areal (atual Coelho Neto) e Pavuna), já que se podia alcançar o centro da cidade através de baldeação para os trens da Dom Pedro II na altura de São Francisco Xavier. Embora atravessando terras mais baixas, sujeitas a inundações periódicas, próximas que estavam da orla da baia de Guanabara, a Rio de Janeiro Northern Railway Company, também chamada Estrada do Norte (futura Leopoldina Railway), teve papel muito mais importante que a Rio D'Ouro. Sua primeira linha, inaugurada em 23/04/1886, entre São Francisco Xavier e Mirity (atual Duque de Caxias), interligou uma série de núcleos semi-urbanos preexistentes, (como Bonsucesso, Ramos, Olaria, Penha, Brás de Pina, Cordovil, Lucas e Vigário Geral) que, devido a grande acessibilidade ao centro proporcionada agora pela ferrovia, passaram então a se desenvolver em ritmo bastante acelerado. A esse respeito, dizia Noronha Santos: "Quatro trens de subúrbios trafegavam diariamente, antes de 1897, na única linha que existia até Mirity, com desvios em Bonsucesso, Penha e na Parada de Lucas.

O primeiro núcleo de habitantes dessa zona que mais acentuadamente prosperou foi Bonsucesso. Esta localidade e as de Ramos, Olaria e Penha, em pouco tempo (entre os anos de 1898 e 1902) tiveram os seus terrenos divididos em lotes, organizando-se simultaneamente empresas para construção de prédios. Ramos transformou-se em empório comercial e num dos centros de maior atividade na zona da Leopoldina Railway ".

Finalmente, em 01/11/1893, foi inaugurado o primeiro trecho da Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil, construída pela Companhia do mesmo nome e presidida por André Gustavo Paulo de Frontin, e que, em 1903, seria incorporada a Central do Brasil, com o nome de Linha Auxiliar. Esse trecho ligava Mangueira a Sapopemba (atual Deodoro), que já integrava a rede da Central. Em 1898 foram inauguradas, por sua vez, as estações de Vieira Fazenda, Del Castilho, Magno e Barros Filho.

Já na última década do século passado estavam pois, em pleno crescimento, os principais subúrbios do Rio de Janeiro atual. Naquela época, entretanto, eles não passavam de simples núcleos dormitórios, conforme descrevia Aureliano Portugal no inicio do século XX: "A continuidade da cidade propriamente dita e tal que, em grande parte, se torna impossível estabelecer limites entre as paróquias urbanas e as chamadas suburbanas. Todo o percurso da Estrada de Ferro Central do Brasil, até além da Estação de Cascadura, é marginado de habitações, formando, sem quebra de continuidade, inúmeras ruas, que a freqüência e a rapidez de transporte incorporam naturalmente à cidade. O mesmo se dá com relação à vasta planície servida pelas linhas suburbanas do Norte, da Melhoramentos do Brasil e da Rio D’Ouro. Esses subúrbios não têm existência própria, independente do Centro da cidade; pelo contrario, a sua vida e comum e as relações íntimas e freqüentes; e a mesma população que moureja, no centro comercial da cidade, com a que reside neste, sendo naturalmente impossível separá-las".

A ocupação dos subúrbios é exemplificada, ainda, pela movimentação de passageiros nas estações da Central do Brasil, que atingiu, no período 1886-1896 um total de quase 30 milhões de pessoas (Tabela 3.3). Este número, se é insignificante quando comparado ao total de passageiros transportados pelos bondes (estes transportaram, em um único ano - 1896 - quase 73.000.000 pessoas), já representava, entretanto, uma demanda acima da capacidade de oferta, como exemplifica Noronha Santos ao falar da crise de transportes da década de 1890.

“A crise de transporte não ficou circunscrita ao bonde. Nos trens de subúrbios constituía, já naquela época, verdadeiro martírio, viajar pela manhã ou à tarde. O povo acotovelava-se nas estações principais, debatendo-se em horas de maior afluência de passageiros, como se fosse um bando de lutadores ofegantes, para alcançar um lugar no trem, onde se apinhava gente de toda castas”.

Ao analisar o crescimento dos subúrbios nessa época, é preciso, pois, relativizá-lo frente ao que estava ocorrendo nas áreas servidas pelos bondes. Com efeito, apesar das freguesias de Engenho Novo, Inhaúma e Irajá terem apresentado um aumento demográfico considerável no período 1872-1890, já comentada, as freguesias centrais e aquelas periféricas ao centro (onde se concentrava a população mais pobre da cidade) também apresentaram incrementos demográficos importantes. E o mesmo aconteceu com as demais freguesias urbanas, que estavam em franco processo de ocupação. Note-se, ademais, que toda a cidade começava, nessa época, a sofrer o impacto de uma industrialização incipiente, que a princípio procurou localizações próximas ao centro urbano, só se transferindo para os subúrbios no século atual.

Fonte de consulta:

ABREU, Maurício de A.. Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar,1988.

terça-feira, abril 10, 2007

Saber ler

Sou de uma geração que sabia ler, porque aprendeu na escola. Não direi que ela era risonha e franca, mas seus resultados nos acompanham até hoje. Dali veio o gosto pela leitura, porque ali se adquiriu o amor ao livro, para a vida inteira.

O ensino da língua cobria algumas preciosas etapas: cópia, ditado, leitura, interpretação, composição, dissertação. E não se tinha, como hoje, instrumental didático e auxiliar renovável ano a ano: tudo acontecia no quadro negro, nos álbuns de figuras, no caderno e na fala.

Por favor, não estou dizendo que o que era bom deva ser eternizado, quem sou eu para negar a dinâmica da sociedade e suas transformações ...

Hoje fala-se em educação em toda reunião, chegando, algumas pessoas, a declarar - alto e bom som - que nela está a salvação de todas as mazelas do país. Eu ouço e me lembro da escola que ensinava a ler, a analisar, a compreender o texto. E fico comparando o mundo de escritas que nos envolve - livros, revistas, internet, jornais - com o pouco que se tinha. Em compensação, lia-se, compreendia-se o que estava escrito.

Infelizmente, nestes tempos sombrios, há gente que não entende o que se diz mesmo em conversas informais, tampouco compreende o que se escreve. Triste destino da escrita: gasto de tinta e de papel e pouco entendimento. Há quem não se corresponda (adeus cartas...bilhetes), pouco fale, raramente leia e quando o faz, utiliza uma "interpretação" pessoal, enviesada ou seja, pincelando tudo com as tintas de seu pré-julgamento, quando não "visto" através da luneta ideológica que só tem uma direção e uma meta: enquadrar tudo e todos no seu "mundo".

Assim como o jornalista tem que ser fiel ao fato e imparcial no seu ver e no seu divulgar, aquele que ler tem que se ater ao texto. Há quem, também, à falta de leitura - falta de prática neste campo - e habituado ao mundo da "oferta e da procura", onde tudo tem seu preço ou motivo de existir-acredita e julga que todos escrevem por "encomenda", pago por deus-sabe-quem" ou seja, pena mercenária.

Leitura é um exercício contínuo, onde dois entes se encontram frente-a-frente: o leitor e o texto. Não há intermediário. O texto - a se impor compreenda-me ou eu te devoro" e o leitor, "a ter que se despir de seu invólucro e penetrar no que está à sua frente, sem intermediários ou "pressões" endógenas ou exógenas...

Quem penetra no mundo da leitura e nele mergulha, não sairá o mesmo: ficarão nele e para sempre, a insaciedade, o desejo, a necessidade de voltar ao leito das letras unidas entre si, mas carentes dele (leitor) o único que dá sentido, movimento e ao que elas lançam à sua frente. Só o leitor desnuda o texto. Que o faça com respeito e unção. É o mínimo que pede aquele que o escreveu. Não se atribua a ele o que está na mente e no coração de quem o lê.

Autora: Adísia Sá, é jornalista. Escreve semanalmente para o jornal O Povo.

segunda-feira, abril 09, 2007

Intimidade com a web

Como a Internet pode tornar as aulas mais dinâmicas e interessantes

Desde a década passada, vivemos mergulhados na era da Internet. Não é mais possível ignorar as ferramentas da tecnologia colocadas à disposição de todos, inclusive dos docentes. Ao contrário, quanto mais intimidade o professor tiver com os recursos da tecnologia e da Internet, mais facilidade terá para desenvolver o conteúdo didático junto aos alunos. Os jovens são grandes usuários da rede mundial de computadores, ainda que seja basicamente para diversão. Cabe aos professores destacar o outro lado: mostrar aos alunos como a Internet pode ser útil para a aprendizagem.

Para Ariovaldo Folino Júnior, diretor do departamento de Educação a Distância da Uninove (Centro Universitário Nove de Julho), o uso da Internet na relação docente-aluno aproxima, exige participação responsável e propiciou a quebra de fronteiras. A um professor que ainda não faz uso desse tipo de ferramenta, o professor Ariovaldo recomenda que a primeira coisa que ele deve fazer é se tornar aluno de um curso baseado na Internet. "Dessa forma, ele vai perceber como pode usar isso", afirma. "Logo que a Internet surgiu, muitos professores começaram a criar a sua home page, a trocar e-mails com os alunos, em ambiente aberto", relembra. Segundo ele, esse cenário foi evoluindo e hoje os alunos conquistaram mais interatividade, ao trocarem mais informações entre eles, em fóruns de debates acadêmicos ou em outras instâncias.

Ele destaca que o que se observa hoje é que, ao contrário do que se costumava dizer na década passada, na Internet tem muita coisa boa. "Ao contrário do que alguns pessimistas quiseram prever, ao invés de diminuir o papel do professor, a Internet exige muito mais dele: ao responder e-mails, participar de fóruns, de salas de bate-papo, o professor acaba congregando não só alunos da sua própria instituição de ensino, como de outras instituições e de outros estados brasileiros. Essa troca de experiências entre alunos de diferentes locais enriquece o aprendizado", analisa.

"Teorias tem várias", afirma, "mas o melhor mesmo é sentir de perto essa mudança de paradigma. Ao participar de uma palestra virtual, sala de bate-papo, o docente vai sentir necessidade de postar uma mensagem. Isso vai tocá-lo a ponto de fazê-lo perceber que essas ferramentas podem enriquecer a aula dele também", discorre. O professor acredita que o ideal é que a atividade docente seja presencial e virtual ao mesmo tempo.

Dessa forma, o professor consegue manter a sua aula ativa não apenas uma vez por semana, mas durante toda a semana, já que as discussões podem acontecer no espaço virtual. O professor Ariovaldo atua há cinco anos com EAD. No princípio, ele relata que a idéia ganhou força na área tecnológica. Mas ao longo do tempo foi comprovando que as demais também estavam aptas a usar essas ferramentas. "Qual é o mercado profissional que não troca e-mails hoje em dia?", questiona. "O jovem já vem alfabetizado desde o mundo dos games. Conversar com alguém do outro lado do mundo na rede mundial de computadores é algo que não assusta mais o aluno", analisa. Na Uninove, de acordo com ele, desde que começou o EAD, os tutores nas salas de aula foram sensibilizados a empregar essas comunicações nas aulas presenciais. "Diversos cursos, tanto na graduação quanto na pós-graduação, adotam EAD na Uninove", explica.

Veio para ficar

A tese de doutorado do professor Fernando Modesto, do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo), partiu do princípio de que a Internet veio para ficar nas universidades e bibliotecas. O professor Modesto analisou o ambiente acadêmico paulista na UNESP, UNICAMP e USP, quanto às mudanças geradas pelo uso da Internet e, conseqüentemente, influindo em novos comportamentos e desempenhos de bibliotecários e docentes/pesquisadores. "Particularmente, acredito que a Internet é uma ferramenta que facilita muito o trabalho do docente, na graduação, na pós e na pesquisa. Tenho meu site da disciplina, deixo ali à disposição dos alunos os programas, as apostilas, as bibliografias e o material de apoio, sempre atualizados ", relata.

"Outro recurso interessante é o blog", aponta. Professor Modesto destaca que a ferramenta pode ser usada como uma forma de integração com os alunos. "Apliquei em uma disciplina. À medida em que eles iam produzindo seus trabalhos, cada um ia marcando suas experiências no blog coletivo, colocando as suas opiniões. E eu podia acompanhar o desenvolvimento de todo o grupo, a participação, a integração, o trabalho cooperativo e a formação de redes sociais", comenta. Os alunos identificaram os interesses comuns, e os trabalhos que tinham algum elo iam naturalmente se integrando.

O recurso de VoIP (voz sobre IP - Internet Protocol -, o mesmo sistema usado em softwares como o Skype, por exemplo), também é apontado pelo professor como útil, principalmente nos casos de orientação de TCC ou de dissertações de pós-graduação. "Quem tem computador, sem gastar muito, pode usar esses programas de comunicação, aliados a uma webcam. Isso facilita o aluno a manter um contato muito mais próximo com o professor, promove uma interatividade interessante. A comunicação a distância ajuda a construir os seus saberes", diz.

A tecnologia, na opinião do professor Modesto, dá condições interessantes para que os docentes possam desenvolver sua prática de ensino e de pesquisa. "É um processo que vem crescendo, mas muitos professores são resistentes à tecnologia por não saberem operar, por não terem tempo para esse aprendizado", analisa. "Na própria pesquisa, detectei que os docentes da área de Exatas e Biológicas são mais abertos ao uso dessas ferramentas, por conta da formação e do foco de interesse. Os de Humanas não encontram tanto conforto nessa prática", aponta.

Mais flexibilidade

Um outro tipo de serviço que tem se popularizado entre docentes é o que possibilita a criação de Salas de Aulas Virtuais. Atualmente, o Universia disponibiliza um serviço desta natureza, o Salas Virtuais (www.universia.com.br/salasvirtuais), desenvolvido pelo TelEduc, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Uma das vantagens da Sala Virtual é sua facilidade de uso. Não é preciso ter conhecimentos de tecnologia para criar uma Sala Virtual. Segundo Guilherme Zillig, analista de programa de formação da Faculdade IBTA e usuário das salas virtuais do Universia desde 2005, o ambiente é seguro e intuitivo. "No início, usávamos a sala para fazer um link com o nosso ambiente de estudo a distância. O aluno se cadastrava e podia acessar materiais complementares indicados pelo professor. Agora, na sala virtual é muito mais fácil subir conteúdo, dá mais flexibilidade para o aluno se inteirar com a turma", elogia. Guilherme é responsável pelo design instrucional, ou seja, ele modela como vai ser uma aula no ambiente EAD.

A Faculdade IBTA aprovou tanto esse modelo, que até mesmo as reuniões de professores passaram para o ambiente virtual. "Basta copiar tudo o que foi discutido no chat e a ata é gerada automaticamente", completa Zillig. O material de apoio fica disponível on-line e os coordenadores de curso e professores podem ser convidados. A reunião tem horário para começar e acabar e costuma ser muito produtiva e objetiva.

A Sala de Aula Virtual, por ser um ambiente, fechado, protegido, também conta com um perfil de professores e alunos, que Guilherme chama de "miniorkut". "Os alunos gostam muito, eles passam a conhecer colegas nas disciplinas comuns em cursos diferentes. Dessa forma, evitamos o maior mal do estudo a distância, que é a solidão", relata. Hoje, todos os 270 professores da graduação da IBTA, além dos cerca de 50 da pós-graduação podem participar das Salas Virtuais e são estimulados a isso. Eles hospedam o conteúdo das aulas em pastas e o aluno pode baixar as apostilas, exercícios e gabaritos diretamente da web. "Na minha opinião, a integração e a facilidade de acesso ao material de apoio são as maiores vantagens desse sistema", diz.

Retrato do discurso coletivo

Outra possibilidade é o uso de softwares específicos, desenvolvidos para uso de pesquisadores e docentes, como o QualiQuantiSoft. Em pesquisas de opinião pública, a fim de se obter um retrato do discurso coletivo, existem várias maneiras de agrupar as respostas dos entrevistados. Mas a hesitação dos pesquisadores diante de uma variedade de respostas e sobre qual ação tomar levou os professores Fernando Lefevre e Ana Maria Cavalcanti Lefevre, da FSP/USP (Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo), a desenvolverem o software. Lançada há quase três anos, a ferramenta sistematiza as opiniões obtidas em pesquisas do DSC (discurso do sujeito coletivo). O software também pode ser usado para obter o grau de satisfação dos alunos com um determinado curso.

"O software, junto com essa metodologia, tem sido usado para fazer avaliação docente, ele é muito útil para isso, ele dá uma percepção muito detalhada dos alunos, um feedback importante", informa o professor Lefevre. Ele acrescenta que o software tem grande aplicabilidade nas áreas de Educação, Treinamento e Capacitação. "Embora tenha sido desenvolvido na área de Saúde Pública, é um método bem amplo", classifica. O software foi desenvolvido pela USP em parceria com uma empresa privada, que comercializa o produto em várias versões, com preços que variam de R$ 300,00 a R$ 2.200,00.

A conclusão é que a tecnologia abre infinitas possibilidades ao ensino. Cabe ao professor escolher uma com a qual ele se adapte melhor. Ainda não se sabe aonde esse processo vai chegar. O que se sabe, porém, é que desde já o ensino e a pesquisa estão muito mais motivantes e interativos......
Por Silvia Angerami.

quarta-feira, abril 04, 2007

Em defesa da música na escola

(Jorge Fernando dos Santos - Do Estado de Minas)

Da canção de ninar à marcha fúnebre, a música sempre fez parte da vida dos homens. Na era pós-industrial, não faltam opções de gêneros e estilos musicais para todos os gostos e ouvidos. Da suavidade das composições chamadas eruditas aos estertores do funk, somos diariamente bombardeados por notas e acordes. No entanto, as escolas brasileiras, em sua maioria, insistem em ignorar os benefícios da música no processo de aprendizagem. Numa sociedade cada vez mais individualista, em que o consumismo substitui as ideologias, o cidadão é, desde cedo, afastado da própria harmonia interior.

No livro Musicalizando a escola: música, conhecimento e educação, publicado pela editora Escrituras, Carlos Eduardo de Souza Campos Granja analisa a importância da música em vários momentos da história humana e defende a volta do ensino musical obrigatório no país. Além de contribuir para a auto-estima e estimular a compreensão do outro e de si mesmo nas aulas de educação artística, passando noções de disciplina, hierarquia e respeito às diferenças, a música pode ser uma ferramenta no ensino de matérias como línguas, história, geografia, física e matemática.

Campos Granja parte da premissa de que o homem é um ser musical. Mais que isso, toda a natureza é musical, entendendo-se por música a articulação harmônica entre ruído e silêncio. Seu livro é, na verdade, a ampliação da tese de mestrado defendida na Universidade de São Paulo (USP) e visa demonstrar o quanto a música se relaciona com lógica e matemática. Professor dessa matéria na Escola da Vila e de percussão corporal na Escola HeiSei, em São Paulo, o autor é formado em economia e matemática, mas desenvolveu paralelamente estudos em música. É contrabaixista e mestre em educação.

O livro lembra a origem da música e de seu estudo, desde a Grécia Antiga, sob o olhar de filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Campos Granja lembra que a cultura clássica atribuía a origem dos sons aos deuses Apolo e Dionísio. O primeiro teria concebido as grandes harmonias, executadas em instrumentos de corda e identificadas com a música erudita e espiritual. O outro seria responsável pelos sons percussivos e soprados, que levariam aos ritmos profanos e à canção popular. No século 20, a partir do jazz, essas duas concepções se tornariam mais próximas.

Palestra

A tese de Campos Granja foi impulsionada pela palestra proferida, em julho de 2005, pelo psicólogo e educador musical inglês David Hargreaves, intitulada “Within you, without you: music, learning and identity”, durante simpósio na Universidade Federal do Paraná. O especialista falou do descompasso existente entre a música ensinada nas escolas britânicas e a música praticada pelos alunos fora das salas de aula. Alguém pediu a palavra e ressaltou que, no Brasil, esse descompasso não existe simplesmente porque, aqui, sequer se ensina música na escola.

Musicalizando a escola é indicado a professores e diretores. No entanto, o autor alerta que “a proposta de musicalizar a escola não pode se limitar à inclusão da música como disciplina. Deve implicar na construção do conhecimento, articulação entre elaboração conceitual e atividades de natureza perceptiva”.

Musicalizando a escola: música, conhecimento e educação

De Carlos Eduardo de Souza Campos Granja, Editora Escrituras, 160 páginas, R$ 18.
Correio Braziliense, 25 fev. 2007.

domingo, abril 01, 2007

Estudantes do Rio de Janeiro podem ficar sem acesso à internet

Para suprir a carência de professores, a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro determinou o retorno dos professores que estiverem trabalhando fora das salas de aula. Esse é o caso dos professores orientadores tecnológicos dos laboratórios de informática educativa.

Em conseqüência, estão fechadas as salas de informática e interrompidos os planos de utilização da informática e da Internet nas escolas estaduais. Esses professores foram treinados pela própria secretaria de educação para gerenciar os laboratórios.

Alguns foram oficialmente remanejados para o novo cargo de "Orientador Tecnológico" e, estimulados pela nova atividade, investiram em cursos adicionais para aperfeiçoamento e especialização. Todos serão reconduzidos ao tradicional "cuspe e giz".


Texto: Raylson Nicacio de Sousa

O.T. - Profissão de Risco!

“Durante muito tempo lutamos para conseguir o suporte necessário de infra-estrutura física, material e pessoal para situarmos nossos alunos na era digital. Agora que conquistamos o mínimo e podemos mostrar o resultado do nosso trabalho, mesmo nesse curto espaço de tempo, somos tolhidos completamente”

Roberto Eduardo é biólogo, professor de ciências da Escola Estadual Pinto Lima (Niterói/RJ), estudante do curso de Especialização Tecnologias em Educação (PUC-Rio) e ex-Orientador Tecnológico (reab@brfree.com.br).

Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

É profundamente lamentável que o Governo Estadual do RJ inviabilize, ainda que provisoriamente, o programa de fomento no uso das tecnologias educacionais nas escolas.

Demorei seis dias a me pronunciar sobre isso, pois pensei que o Secretário Estadual de Educação atentasse para o descalabro que é acabar com os Orientadores Tecnológicos – O.T. e descobrisse que houve um “engano”, mas vejo que essa é a política do novo Governo.

Muitos investimentos, pessoais e governamentais, foram feitos e não cabe a alegação de economia com gastos de pessoal ou replanejamento de cargos/funções, quando se trata de qualidade educacional, embora eu desconheça qualquer explicação ou solicitação formal para que os O.T. voltem para os seus respectivos e tradicionais conteúdos disciplinares.

Desta forma, observa-se que o Governo não fez o "dever de casa", não avaliando e discutindo com a comunidade escolar a atuação dos O.T. É simplesmente inaceitável!

Durante muito tempo lutamos para conseguir o suporte necessário de infra-estrutura física, material e pessoal para situarmos nossos alunos na era digital. Agora que conquistamos o mínimo e podemos mostrar o resultado do nosso trabalho, mesmo nesse curto espaço de tempo, somos tolhidos completamente.

Logo agora que tentávamos diminuir o fosso existente entre aquilo que a rede estadual de educação oferece e o que os educandos realmente necessitam para alcançar a tão falada “Cidadania”.

Sem falar na frustração dos nossos alunos, após trabalho amplo sobre a importância de se atualizar no mundo das tecnologias, recebem um banho de água fria ao encontrar o Laboratório de Informática Educativa - LIED fechado.

Sou testemunha do “brilho nos olhos” e no “interesse” dos alunos ao criar uma conta de e-mail, entre outras possibilidades de acesso digital.

É desnecessário falar do impacto motivacional, sob o ponto de vista pedagógico, e na diminuição da evasão, que os recursos modernos trazem dentro da escola.

É inegável, portanto, a boa atuação dos O.T. no sentido de possibilitar e incentivar o uso dessas ferramentas na escola, até que todos os docentes sejam plenamente capacitados.

Diante desse cenário, só me resta agradecer... Aos alunos, que tiveram uma destacada participação no uso do LIED, mesmo fora do tempo de aula, realizando atividades extracurriculares propostas pelo O.T.

Aos professores, que não tiveram medo do “novo” e vislumbraram as infinitas possibilidades de construção do conhecimento e progrediram graças à sua dedicação ao trabalho bem executado e à eficiência no uso adequado dos novos recursos tecnológicos disponíveis.

A Direção da Escola que não mediu esforços na busca dos recursos necessários na concretização e operacionalização do LIED. Aqueles "heróis" da comunidade que nos ajudaram. E ao Governo do Estado do Rio de Janeiro, que deu um bom exemplo de “Descontinuidade” de um dos poucos projetos bem sucedidos na gestão anterior.


Artigo de Roberto Eduardo Albino Brandão